Sou a Maria Azarada, tudo me corre ao contrário.
Eu chego sempre atrasada; esta vida é um calvário.
Ai, quem me tira a mordaça que me impede de gritar:
- Esta vida é uma trapaça que os meus olhos faz trocar!
Do que me avisam, já era... O que apontam, esgotou-se...
O que me dizes, sincera... era mentira, finou-se.
Se algo vai acontecer e quero participar,
quando chego a saber... já acabou, foi ao ar.
Os concursos terminaram... falhei-os só por um dia.
As festas já acabaram... bolo, já não há, havia!
O automóvel enguiça... O telemóvel sem carga...
Lagartas na hortaliça... Até o café amarga!
Camioneta avariada... O comboio que já partiu...
Não há um táxi, nem nada... E a boleia... sumiu!
Mesmo assim, cá vou andando, nesta vidinha tramada,
ao S. Pedro perguntando porque é que sou enjeitada;
se, nem um passeio garanto, tenho azar ao escolher data.
O tempo estava um encanto e... logo a chover desata.
Mas eu prossigo, sem medo, nesta ânsia de viver;
trago comigo um segredo: «sei que parar é morrer»!
--------------------------
6/05/2003
Laura B. Martins
Soc. Port. Autores n.º 20958