Hoje estou às avessas, num humor que até da pena.
Por isso não me espere, estou saindo de cena.
Não suporto bandalheira... Acabo falando besteira.
Antes que a vaca tussa e alguém se compadeça,
ou a coisa fique russa, ou a verdade apareça,
levanto acampamento. Hoje, nem eu me agüento.
Vou sair prá passear, numa boutique gastar,
melhorar a aparência, esconder a transparência,
comer um doce gelado sem receio, sem pecado.
Tomar um banho de cheiro, duas horas no banheiro,
descansar no massagista, tentar ser equilibrista
procurando não cair, com medo e sem desistir.
Gastarei cada segundo virando todo este mundo
só comigo e só prá mim. Quero ser começo e fim
sem as tramas de maldade, nas asas da liberdade.
Então, não fique por perto deste meu mundo deserto.
Hoje vou jogar sozinha nesta vida que é só minha.
Não aceito ingerência nem que eu vá à falência.
Não estranhe, não sou louca. Só minha voz anda rouca
de gritar por mais amor. O mundo perdeu a cor,
Bondade já não se vê nem em filmes da TV.
Vergonha ninguém mais tem e os tolos dizem Amém!
Mentiras prá todo lado, cada qual mais revoltado
e o meu Brasil amado inteiramente aviltado!
Adeus, amigo do peito! Adeus turma da pesada!
Volto quando tiver jeito. Da sujeira estou cansada.
Hoje vou até beber... Quem sabe consiga esquecer.
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Cleide Canton
SP, 16/08/2006