Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabarolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projectos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milénio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos factos a limpo".
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:
"as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.
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Ricardo Gondim
http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=61&sg=0&form_search=&pg=1&id=1132
NOTA:
Também já não quero juntar-me com amigos que apenas anseiam ter os seus trabalhos repassados por essa Internet, na cegueira de ir a algum lado.
Porque não retiram a venda dos olhos?
Todos temos um pouco de artistas, seja lá no que for.
Para quê perder aqui os serões com repasses inúteis enquanto o tempo urge e pode ser muito melhor empregue em trabalhos úteis ou valiosas distracções?
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15/04/2006
Laura B. Martins