Foi isto mesmo que hoje pensei e pedi em silêncio, só no meu coração: Fotografa-me!
A vida passa a correr e os anos alteram-nos o corpo, retiram o brilho dos olhos e colorido das faces e lábios.
Então, peço que me fotografes para mais tarde recordar, ao vivo e a cores.
Hoje estou alegre: Fotografa-me!
Hoje, sorrir é fácil. Fotografa-me!
Hoje estou de bem com a vida. Fotografa-me!
Esta roupa assenta-me às mil maravilhas. Fotografa-me!
Amanhã posso estar mais gorda ou mais magra e a roupa já não encaixa bem.
Agora estou concentrada a trabalhar. Fotografa-me!
Quero saber como sou quando não estou em pose.
Acordei agora. Fotografa-me!
Quero saber se assusto alguém ao acordar.
Hoje estou feliz e capaz de transmitir felicidade. Fotografa-me!
Hoje estou… Sei lá o que é que estou, mas quando me fotografas eu sinto-me bela e uma estrela de cinema.
Hoje foi um dia feliz; falei pelos cotovelos, ri que nem uma tola. Foi um dia daqueles que temos e, infelizmente, não são muitos.
Poderias ter-me fotografado para me esfregares a fotografia na cara quando estou rezingona, chata, mal disposta.
Fotografa-me! Fotografa-me! Fotografa-me!
E não há ninguém que se lembre de me fotografar porque a vida já era, sou hoje uma sombra do que fui e pouco me fotografaram.
Verdade se diga que já nem gosto de ver as fotografias antigas.
Numas acho o penteado estranho; noutras acho feia a roupa; noutras ainda acho-me com um ar de não sei quê.
Acho tudo e não acho nada. Acho que era bonita e sinto pena de já não ser jovem.
Fotografa-me, então, naqueles raros dias em que a idade parece retroceder e regressa a boa disposição, a descontração.
Fotografa-me naqueles momentos em que o sorriso faz esquecer as agruras da vida e a idade.
Fotografa-me enquanto sinto que existo.
Agora já podes deitar as fotografias fora porque o fim se aproxima; elas não interessam a mais ninguém.
E eu não quero vê-las!
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10/11/2010
Laura B. Martins